As dores na coluna durante a gravidez

Alterações fisiológicas e biomecânicas favorecem o aparecimento da lombalgia

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As dores nas costas durante a gravidez podem ser consideradas comuns. As alterações fisiológicas facilitam essa ocorrência. O Dr. Rodrigo Tisot, Mestre e Doutor em Ortopedia, explica que a lombalgia é um sintoma comum, na gravidez. Segundo o e especialista em coluna do Hospital Ortopédico e do Hospital da Cidade de Passo Fundo, estima-se que cerca de 50% a 70% das gestantes queixam-se de dor sobre a região lombar em algum momento da gravidez ou durante o puerpério. Esta lombalgia pode ser causada por disfunção músculo-ligamentar, sobrecarga em articulações sacroilíacas ou patologia prévia na coluna. A lombalgia causada por disfunção músculo-ligamentar é o fator causal mais frequente.

 

Por que as dores da coluna são comuns durante a gravidez?
Na realidade, a dor que ocorre na região lombar, durante a gravidez, na maioria dos casos, não decorre de problemas da coluna. Na gravidez, ocorrem alterações fisiológicas e biomecânicas, sob o corpo da mulher, que favorecem o aparecimento da lombalgia. As alterações fisiológicas acarretam maior lassidão ligamentar, além de retenção hídrica pelo corpo. Com relação às alterações biomecânicas, o aumento progressivo do peso corporal, anterior ao tronco, faz com que a lordose lombar aumente e a pelve rode anteriormente. Isto sobrecarrega a musculatura da região lombar, que acaba entrando em fadiga e inflama, gerando o sintoma de lombalgia.

 

Guindaste
Para exemplificar, comparamos a estrutura de funcionamento da coluna lombar como um guindaste. O feto em crescimento estaria na ponta do braço de alavanca, a coluna lombar no eixo central e, os músculos, estariam na porção posterior do guindaste, trabalhando em compressão, resistindo a forças de tensão, como o cabo do guindaste. Quanto maior carga anterior sob o braço de alavanca (maior peso da mãe e feto), maior deverão ser as forças exercidas pelo cabo de tensão (musculatura da região lombar). Caso o cabo de tensão não seja suficientemente forte para resistir a essa carga anterior, ele falhará, ou seja, o músculo entrará em fadiga, inflamará e iniciar-se-ão a queixas álgicas de lombalgia.

 

Musculatura preparada
Os estudos e experiência profissional demonstram que os sintomas de dor sob a região lombar tendem a iniciar no segundo ou, de forma mais frequente, terceiro trimestre da gestação. A lombalgia tende a ceder gradativamente após o término da gestação. Porém, há mulheres que chegam a permanecer com as queixas de lombalgia até 03 anos após o parto. A mulher que vem praticando atividade física regular desde a juventude possui uma musculatura mais adequada para suportar as alterações de peso e biomecânicas que ocorrem sob a região lombar. Elas tendem, portanto, a apresentar menos queixas álgicas que mulheres sedentárias.

 

Eventos diferentes
A mesma mãe que não sentiu dores numa gravidez anterior pode sentir numa outra. Cada gravidez é um evento diferente. O peso da mulher pode ter aumentado com a primeira gravidez, assim como o tempo disponível para exercícios e cuidados posturais no manejo com criança pequena muitas vezes não são adequados. Estas alterações sobre o corpo, poderão desencadear lombalgia em uma segunda gestação.

 

Consequências
Essas dores podem comprometer a saúde da mãe ou do bebê. A lombalgia poderá alterar o estado de humor da mãe, propiciando ou agravando um quadro de depressão, assim como poderão acentuar-se progressivamente, no caso de doença preexistente na coluna. Com relação ao bebê, o problema maior seria se a mãe iniciasse uso de medicações sem a adequada orientação ou supervisão médica. A lombalgia pode ser moderada à intensa e, como os recursos para tratamento não são abundantes, há casos nos quais a paciente necessita de repouso completo. A dor noturna, ou em outras situações de repouso, é frequente nos casos de lombalgia de origem músculo-ligamentar. As mulheres grávidas, nestes casos, muitas vezes acabarão afastadas temporariamente de suas atividades laborativas diárias por tempo prolongado.

 

Prevenindo as dores
A prevenção é a chave para uma gravidez livre de lombalgia ou, ao menos, com queixas álgicas toleráveis. Ela envolve hábitos saudáveis na vida diária, antes e durante a gestação. Frente a isso, recomenda-se bons hábitos posturais, adequação dos ambientes de trabalho, com orientação ergonômica, dormir pelo menos oito horas por dia, em colchão confortável, além de praticar exercícios regulares sob supervisão. As mulheres que possuem lombalgia, mesmo leve ou intermitente, apresentam maior probabilidade de crises álgicas exacerbadas na gravidez. Por isso, deveriam consultar com especialista previamente à gravidez, com objetivo de excluir doenças na coluna que poderiam ser agravadas durante o período pré-natal.

 

Pós-parto
A amamentação e carregar a criança no colo são posturas que podem ser prejudiciais à coluna. A mãe deve redobrar os cuidados posturais e, organizar o local de manejo com seu bebê, de modo que a ergonomia do local seja um fator que auxilie a evitar posturas que sobrecarreguem mais às costas da mãe. Postura ereta do tronco da mãe durante a amamentação, cuidados de higiene e agachamentos, são fundamentais nos primeiros anos da criança.

 

Tratando a lombalgia da gestante
Em caso de falha ou ausência de prevenção, a lombalgia poderá ser tratada fundamentalmente com repouso, calor local e várias modalidades de fisioterapia, que envolvem a analgesia, melhora postural, alongamento e reforço muscular. O fisioterapeuta dosará as modalidades de tratamento fisioterápico dependendo do grau de sintomatologia e dos fatores causais, que forem avaliados e diagnosticados previamente pelo médico especialista em coluna. Se possível, deverão ser evitadas medicações analgésicas e anti-inflamatórias e, caso não seja possível evitá-las, preferencialmente usá-las apenas no último trimestre da gestação, apenas sob a indicação e supervisão médica, em consequência dos riscos que diversas drogas acarretam para a mãe e o feto.

 

Retornando ao normal
O reequilíbrio fisiológico e biomecânico do organismo da mulher, após a gestação, vai lentamente retornando ao normal e, por isso, a tendência é que as dores lombares regridam progressivamente. Caso a mulher não reestabeleça um peso corporal próximo ao anterior à gravidez, não cuide da postura no manejo com o bebê, não reestabeleça um horário para atividade física regular e não trate possível distúrbio de humor de origem gestacional ou pós-gestacional, as queixas álgicas poderão continuar durante meses ou até três anos após a gestação. Caso a paciente apresente doença na coluna lombar preexistente, a falta de adequada orientação profissional do especialista em coluna poderá resultar em agravamento da lesão, com manutenção ou agravamento da lombalgia, por tempo indeterminado.

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