Passo Fundo expande possibilidades de comercialização para o trigo

Com variedades voltadas para o moinho, exportação e a indústria do etanol e da ração, Rio Grande do Sul exportou mais de 80% da última safra de trigo

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Trigo se encaminha para a fase de maturação na região de Passo Fundo. (Foto: Isabel Gewehr/ON)Trigo se encaminha para a fase de maturação na região de Passo Fundo. (Foto: Isabel Gewehr/ON)
Trigo se encaminha para a fase de maturação na região de Passo Fundo. (Foto: Isabel Gewehr/ON)
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Apesar do Brasil não ser um país de referência para a exportação do trigo, o Rio Grande do Sul tem ganhado espaço no cenário mundial, tendo exportado mais de 80% da safra do último ano. Deixando de ser uma cultura que suscita tantas dúvidas na hora da implantação, a região de Passo Fundo aumentou neste ano cerca de 33% da área cultivada e tem expandido as vias de comercialização para além dos moinhos, acompanhado da exportação e das indústrias de etanol e ração. 


Os impasses do trigo 

Com a expectativa de ter a maior produção da história do Rio Grande do Sul, com uma colheita de quase 4 milhões de toneladas, um dos principais desafios enfrentados na produção de trigo estava a liquidez. No momento da venda do grão, os produtores não encontravam preços adequados e nem para quem comercializar, visto que a única via era o moinho, que possui dificuldades com questões de armazenamento. “O negócio dos moinhos não é armazenar grão e sim moer grão, moer o trigo. Então ficava um pouco complexo porque quando ia entrar a safra de verão, os cerealistas ou cooperativas vinham com os silos cheios de trigo e os produtores precisavam tirá-los. E às vezes os preços não eram os mais atrativos ou realmente não tinha para quem vender”, explicou o gerente comercial da Biotrigo para a América Latina, Fernando Michel Wagner. 


A nutrição animal e o etanol 

Ao todo, o Rio Grande do Sul tem 6 milhões de hectares de soja e implanta somente 1,4% desse montante com o trigo. Apesar desta ser uma área histórica de trigo para o Estado, ainda há muito espaço ocioso. Durante o Dia de Campo Biotrigo 2022, realizado na última quarta-feira (19), foram apresentadas novas tecnologias no trigo e vias de produção que tem se expandido aos produtores para preencher essas áreas. 

Com a presença de mais de 300 pessoas, dentre multiplicadores de sementes, assistentes técnicos e representantes da indústria moageira, um dos destaques foi o trigo com aptidão para etanol, visto que o Rio Grande do Sul importa cerca de 99% do etanol presente no Estado e possui o espaço para investir no segmento. “Tem muito espaço, ou seja, direcionar o trigo para etanol não significa que eu vou estar tirando comida da mesa. Então antes que venha a cabeça de alguém de que está faltando trigo no Brasil e estamos fazendo combustível, há espaço para fazer isso”, explicou Fernando Wagner. 

Essa tecnologia se agrega ao trigo para nutrição animal, desenvolvido desde 2015 pela Biotrigo. “As áreas de milho em Santa Catarina e Rio Grande do Sul caíram muito por causa das questões de custo de produção e a soja ser uma atratividade maior no verão. Então a indústria de proteína animal, que vai fazer ração, tem que trazer milho de longe e isso tá saindo muito caro”, pontuou o gerente comercial da Biotrigo, lembrando que o carro chefe do transporte de grãos são as rodovias. Além disso, o “DDGS”, conhecido como farelo, que dos restos do trigo para etanol, se direciona para o mercado de nutrição do gado de corte e de leite.


Conflitos internacionais 

Como pano central desse crescimento de oferta e procura está a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, países que respondem por mais de 30% da exportação de trigo no mundo. “É difícil dizermos que o Rio Grande do Sul está exportando e o Brasil é um país que importa. Mas é por questões de logística”, mencionou Fernando, fazendo referência ao porto do Estado que permite isso. Nesse sentido, mesmo que a área cultivada no RS cresça, isso não significa que irá resolver os problemas do trigo do país, visto que não é economicamente viável transportar esse grão para o Nordeste ou o Sudeste. “E a Argentina, que é o nosso maior provedor, acaba atendendo outros mercados que a Rússia e a Ucrânia atenderiam, então o Brasil começa a ter competidores na compra do trigo argentino”. 


Menos trigo, mais caro no mercado 

Caracterizado como peculiar, o mercado do trigo tem consumidores muito exigentes, que acabam definindo todo processo de desenvolvimento de uma cultivar. Mesmo que uma variedade renda bem dentro do campo, se ela não atender a demanda do moinho e do consumidor, ela já não é mais válida. “E o mercado do trigo impacta todos nós porque nós estamos falando de pão, de massa, macarrão, biscoito, estamos falando de cesta básica. Temos que torcer por essa cadeia porque quando falamos em inflação e dor no bolso, quanto menos a gente produzir mais isso vai repercutir lá na ponta”, acrescentou o gerente comercial da Biotrigo, lembrando o quanto isso impacta nos valores pagos no mercado.

Foto: Isabel Gewehr/ON


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