Assim como os capilares são fundamentais para a saúde humana, uma rede de aviões de pequeno porte também cumpre importante papel diante da tragédia. Espontaneamente, o pessoal da aviação civil engajou-se no auxílio às vítimas da enchente que assola o Rio Grande do Sul. Sem rodovias, sem pontes e sem ferrovias, várias áreas ficaram totalmente isoladas. Inclusive Porto Alegre. Mesmo sem o Aeroporto Salgado Filho, alagado e fora de operações, mais uma vez a aviação cumpre um importante papel. Se por terra ninguém chega, o caminho é voar. E para voar, são necessárias as asas dos aeroclubes que formam pilotos e, nas mais inusitadas situações, colocam seus aviões a serviço da comunidade. Além disso, quase 60 helicópteros vindo de todo país atuam nos resgates.
Aeroclubes
Domingo sem chuvas e, espontaneamente, formaram-se forças-tarefas distintas para auxiliar nesta tragédia. O exemplo veio de aeroclubes, engajando entidades, pilotos civis e proprietários de pequenas aeronaves. Transportando médicos ou carregados com alimentos e medicamentos, os aviões formaram uma grande malha aérea sobre os céus do território gaúcho. Santa Cruz do Sul foi o principal destino, mas os voos também foram para Bento Gonçalves e Canoas. Para essa grande operação a opção foi por aviões mono ou bimotores de pequeno porte, com capacidade média para cargas de 250 a 500 kg. A solidariedade decolou de Passo Fundo, Erechim, Getúlio Vargas, Chapecó, Costa Esmeralda e tantos outros hangares.
Passo Fundo
Em Passo Fundo a base para os voos da rede solidária foi o Aeroporto Lauro Kortz. A ponte aérea utilizou um bimotor Seneca e os monomotores Centurion e Corisco. Os comandantes Lucas Rorato, Patrick Kirinus e Vagner Mezaroba realizaram várias etapas. Rorato operou com o Centurion da Sementes Webber e finalizou a etapa pouco antes do pôr-do-sol. Patrick informa que fez três missões. “A primeira para Canoas, levando cobertores e material de higiene, pousando na Base Aérea. Depois fui a Bento Gonçalves levando um médico do Exército e medicamentos. Ainda fui a Santa Cruz do Sul levar medicamentos”. Mezaroba, com avião do Grupo SLS, fez a ponte aérea Passo Fundo-Santa Cruz do Sul. “Lá os helicópteros e o Exército levavam para os ponto-chaves. Fiz um voo com cesta básica, um com produto de limpeza, um voo carregado com dipirona e outro com marmita pronta e sanduíches”. Na segunda-feira eles retomam as operações com reforço de um Cessna Skylane da Sementes Falcão.
Erechim e Getúlio Vargas
O Aeroclube de Erechim colocou na missão seis aeronaves baseadas no local. De acordo com um instrutor da entidade, foram transportados de 1.500 a 2.000 kg de alimentos, diversas caixas de medicamentos para Santa Cruz do Sul. Destacou que a situação é dramática e, de cima “a gente vê as estradas obstruídas e não tem como chegar por terra. O pessoal agradeceu muito ao Aeroclube e aos proprietários das aeronaves”, concluiu.
Da Associação Aerodesportiva Getúlio Vargas vários pilotos com aviões próprios ou baseados na AAGV, também ingressaram nas operações. “Todos nós nos prontificamos na medida do possível para fazer nossa parte”, disse o presidente, Comandante Carlos Freitas Júnior. Já de Chapecó vieram muitos aviões trazendo mantimentos. O pessoal do Costa Esmeralda (aeródromo civil entre Itapema e Porto Belo em SC) também participou das operações. E, pelos indicativos, nesta segunda-feira os céus do Rio Grande do Sul terão muitas ‘pandorgas’ solidárias no ar.