Os Anjos Bons da Nossa Natureza
Em 2011, Pinker publicou o livro “Os anjos bons da nossa natureza: Por que a violência diminuiu”. Em 2013, foi publicado no Brasil. Assim como em seu livro anterior, “Tábula Rasa”, Pinker diz ter ficado assombrado pelo ceticismo, pela incredulidade e, em alguns casos, pela raiva que as pessoas demonstravam quando dizia que podemos estar vivendo na era mais pacífica que a nossa espécie atravessou. O livro, com as notas, com as referências bibliográficas e o índice remissivo, tem mil e oitenta sete páginas. Diz Pinker que o livro tinha de ser grande para convencer os leitores da diminuição da violência. Uma avalanche de estatística, dados e gráficos.
Mas, eventual leitor, não fique assustado. O livro não precisa ser lido de cabo a rabo. Você pode ler aquelas partes que julgar mais interessante. E são muitas.
Psicologia da violência e da não violência
Para examinar o tema da violência o Pinker utiliza a teoria da mente: síntese da ciência cognitiva, da neurociência afetiva e cognitiva, da psicologia social e evolutiva de outras ciências da natureza humana. Pinker já tinha analisado essa teoria nos livros “Como a mente funciona” e “Tábula rasa”. A mente humana é um sistema complexo de faculdades cognitivas e emocionais implementadas no cérebro ao longo de milhares de anos de evolução. “Algumas dessas faculdades nos inclinam para vários tipos de violência. Outras – ‘os anjos bons da nossa natureza’, nas palavras de Abraham Lincoln – nos inclinam à cooperação e à paz.” Nós, seres humanos, somos sociáveis, mas também insociáveis. O filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1651), no livro “Leviatã”, analisou de forma admirável esse comportamento contraditório de nossa espécie.
A violência na mídia
Conforme Pinker, “nossas faculdades cognitivas nos predispõem a acreditar que vivemos em uma época violenta, especialmente porque são alimentadas pela mídia, que segue o lema ‘Se tem sangue, dá audiência’. A mente humana tende a estimar a probabilidade de um evento com base na facilidade com que consegue recordar exemplos, e é mais provável que cenas de carnificina, e não imagens de pessoas morrendo na velhice, sejam transmitidas para as nossas casas e fiquem gravadas em nossa memória. Por menor que possa ser e porcentagem de mortes violentas, em números absolutos, elas sempre serão bastantes para encher o noticiário à noite, e com isso as impressões das pessoas sobre a violência serão desvinculadas das verdadeiras proporções”.
Coisas boas não incentivam os ativistas
Pelos padrões da história vivemos num período “abençoado com níveis sem precedentes de coexistência pacífica”. O que necessita explicação não é a violência, mas quais fatores têm contribuído para diminuí-la. Segundo Pinker, ninguém jamais recrutou ativistas para uma causa anunciando que as coisas estão melhorando, e os portadores de boas notícias frequentemente são aconselhados a ficar de boca fechada para não tranquilizar demais as pessoas e torná-las acomodadas. E grande parcela de nossos intelectuais abominam admitir que a civilização, a modernidade e a sociedade ocidental possam ter algo de bom.
Um passado menos inocente e um presente menos sinistro
O declínio da violência nos faz ver o mundo diferente. O passado parece menos inocente e o presente menos sinistro. Passamos a apreciar as pequenas dádivas da coexistência que pareciam utópicas para nossos antepassados: uma família inter-racial brincando no parque, um humorista que faz uma piada sobre o chefe do governo, os países que discretamente recuam de uma crise em vez de partir para a guerra. Desfrutamos a paz que encontramos hoje porque pessoas das gerações passadas se horrorizaram com a violência em sua época e se empenharam para reduzi-la. E devemos trabalhar para reduzir a violência que resta em nosso tempo. A desumanidade do homem, diz Pinker, há muito tempo é alvo de condenação. E em vez de perguntar “Por que existe guerra?”, deveríamos indagar “Por que existe paz?”.