OPINIÃO

Há 140 anos era retificada e ratificada a doação feita por cabo Neves à Capela de Nossa Senhora da Conceição Aparecida do Passo Fundo

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Extrato do registro de ratificação e retificação da doação de Manoel José das Neves, feita por sua filha Maria da Rocha Prestes, em 11 de novembro de 1884. Livro de Notas do Tabelionato de Passo Fundo (1884-1887). Acervo Arquivo Histórico Regional (PPGH/UPF). Extrato do registro de ratificação e retificação da doação de Manoel José das Neves, feita por sua filha Maria da Rocha Prestes, em 11 de novembro de 1884. Livro de Notas do Tabelionato de Passo Fundo (1884-1887). Acervo Arquivo Histórico Regional (PPGH/UPF).
Extrato do registro de ratificação e retificação da doação de Manoel José das Neves, feita por sua filha Maria da Rocha Prestes, em 11 de novembro de 1884. Livro de Notas do Tabelionato de Passo Fundo (1884-1887). Acervo Arquivo Histórico Regional (PPGH/UPF).
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Em 11 de novembro de 1884, Maria da Rocha Prestes solicitou ao tabelião local para que fosse até sua residência, quando esta declarou que “como filha legítima e herdeira dos finados Manoel José das Neves e Reginalda das Neves, [...] ratificava e ao mesmo tempo retificava doação que há mais de quarenta anos, seus finados pais fizeram a Padroeira desta Paróquia Nossa Senhora da Conceição Aparecida do Passo Fundo, com o fim de servir de patrimônio a mesma, de uma parte de campo, [...] que se acham situado nesta Vila visto não constar documento escrito desta doação [...]”. Maria da Rocha Prestes era filha do cabo Neves e de sua esposa Reginalda, tendo casado com José Ferreira Prestes, dando origem a família Prestes em Passo Fundo.

A fixação de Neves e sua família aconteceu após o fim da Guerra da Cisplatina (1825-1827), na qual o cabo Neves serviu no 5º Batalhão do 24º Regimento de Cavalaria Ligeira do Exército Imperial, tendo desertado, assim como diversos combatentes, no dia 20 de fevereiro de 1827, dia da Batalha do Passo do Rosário, que pôs fim à guerra, com a derrota brasileira. Após o conflito, o cabo Neves requereu mercê de terras, sendo atendido pelo Comandante da Fronteira de Missões e recebendo cerca de quatro léguas quadradas de campo. Pouco depois, em 1834, por requerimento de cerca de dez cidadãos, ou seja, homens livres, com renda superior a cem mil réis anuais e mais de 25 anos, foi solicitada licença à autoridade eclesiástica de Porto Alegre para se levantar uma capela, com a denominação de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. A capela foi construída no topo da coxilha mais alta, mais ou menos onde atualmente se localiza o Edifício Nossa Senhora Aparecida, esquina das ruas Moron e Coronel Chicuta.

A área doada à Capela de Nossa Senhora da Conceição Aparecida por Neves, passou a ser ocupada por moradores, que requereram, primeiro à Câmara Municipal de Cruz Alta e, depois, à de Passo Fundo, autorização para construir suas casas. Cabe dizer que esses terrenos eram denominados de “terrenos foreiros” ou “terrenos de alvará”.

A instalação de fazendeiros, posseiros, viajantes, tropeiros e militares na primeira metade do século XIX esteve em consonância com a necessidade de ocupação do território. Na concepção do governo, promover o povoamento nas regiões consideradas “inabitadas”, em especial a região Norte, era de fundamental importância, dado que realizava a ligação com o oeste missioneiro, protagonista do comércio de muares, de onde as tropas seguiam em direção à Província de São Paulo. Desses caminhos, a Estrada das Tropas era a rota principal e conectava a Província de São Paulo, a de Santa Catarina e a de São Pedro do Rio Grande do Sul em sua porção norte. Nessa última, o trecho se iniciava no Registro de Santa Vitória, na entrada dos Campos de Vacaria e se estendia até a região missioneira, alcançando a fronteira com a Argentina. Seguindo no sentido contrário, dos Campos de Vacaria se seguia para Lages, na Província de Santa Catarina, e para Sorocaba, Província de São Paulo, onde ocorria a feira de negociações e comercialização do gado.

 

Nas primeiras décadas do século XIX, aconteceu um movimento de expansão, de apossamento e estabelecimento de fazendas ao longo do território do Norte da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, notadamente nos entornos da Estrada das Tropas. O trânsito de pessoas, animais e cargas pela estrada, que ligava a região das Missões aos Campos de Cima da Serra, fez com que diversos indivíduos instalassem casas comerciais no local. Além dos moradores, a região era habitada por diversos posseiros de terras, que concentravam extensas áreas que foram sendo legitimadas.

 

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