Assim como os capilares no corpo humano, uma rede de aviões de pequeno porte também cumpre importante papel no enfrentamento da tragédia. O pessoal da aviação civil engajou-se no auxílio às vítimas da enchente que assola o Rio Grande do Sul. Sem rodovias, sem pontes e sem ferrovias, várias áreas estão totalmente isoladas. Inclusive Porto Alegre. Se por terra ninguém chega, o caminho é voar. A ajuda chega pelo ar. Mais de 70 helicópteros, vindos de todo o país, atuam no resgate de vítimas, remoção de pacientes e transporte de suprimentos para as áreas mais isoladas.
Grupos de aviadores
Domingo sem chuvas e, espontaneamente, formaram-se forças-tarefas distintas para auxiliar nesta tragédia. O exemplo veio de aeroclubes, engajando entidades, pilotos civis e proprietários de pequenas aeronaves, formaram uma grande malha aérea sobre os céus do território gaúcho. Santa Cruz do Sul foi o principal destino, mas os voos também foram para Bento Gonçalves e Canoas. Integram essa grande operação aviões monomotores, bimotores e jatos ou turboélices executivos. A solidariedade decolou de Passo Fundo, Erechim, Getúlio Vargas, Chapecó, Costa Esmeralda e tantos outros hangares.
Passo Fundo
Em Passo Fundo a base para os voos da rede solidária é o Aeroporto Lauro Kortz. São muitos os pilotos que atuam nessa base e quem não voa trabalha no serviço de solo e coordenação. O grupo é formado por Moisés Onofre, César Capelari, Vinicius Delazeri, Vagner Mezaroba, Lucas Rorato, Rafael Lubian, André Lubian, Clovis Zen, Wellington Tisian, Lisandro Webber, Huberto Falcão, Henrique Falcão, Patrick Kirinus, Paulo Wojahn, Victor Onofre, Rafael Stefenon, Rafael Jardim, Lucas Mello, Lucas Capellaro, Marcos Aurélio, Christiano Simoneti, dentre outros. Utilizam aeronaves da Be8, Farmácias São João, Sementes Webber, Comercial Zaffari, SLS, Marsul e Motéis Paradiso. Um helicóptero dos Supermercados Koch, de Tijucas-SC, também integra a missão baseada em Passo Fundo.
Satisfação em ajudar
A maioria dos pilotos é formada por uma nova geração. Na troca de informações no aeroporto, relatam com tristeza a tragédia vista de cima. Mas também há um clima de muita disposição e um sentimento de dever cumprido. Domingo, Patrick Kirinus cumpriu três missões. “A primeira para Canoas, transportando cobertores e material de higiene, pousando na Base Aérea. Depois fui a Bento Gonçalves levando um médico do Exército e medicamentos. Ainda fui a Santa Cruz do Sul levar medicamentos”. Vagner Mezaroba fez a ponte aérea Passo Fundo-Santa Cruz do Sul. “Lá os helicópteros e o Exército levavam para os ponto-chaves. Fiz um voo com cesta básica, um com produto de limpeza, um voo carregado com dipirona e outro com marmita pronta e sanduíches”.
Região
De Erechim, são seis aeronaves na missão humanitária. Somente no domingo, transportaram de 1.500 a 2.000 kg de alimentos e diversas caixas de medicamentos para Santa Cruz do Sul. Integrantes da Associação Aerodesportiva Getúlio Vargas AAGV, também ingressaram nas operações. Já de Chapecó decolaram muitos aviões transportando mantimentos. Do litoral de Santa Catarina, o pessoal do Costa Esmeralda (aeródromo civil entre Itapema e Porto Belo) também participou das operações.
Segunda-feira
A retomada das operações na segunda-feira pela manhã e início da tarde teve muitos voos para Santa Cruz do Sul e Santa Maria. Mas, como a situação agrava-se na Grande Porto Alegre, o planejamento da operação mudou o foco e passou a coordenar voos para Eldorado do Sul. A expectativa da coordenação de solo era pela realização de mais de 20 decolagens da base SBPF. A partir de agora, além das prioridades de cada área, as condições meteorológicas são fundamentais. Para quarta-feira as previsões indicam instabilidades, que, certamente, impeçam operações em muitas áreas. Mas na terça-feira ainda haverá sol e os céus do Rio Grande do Sul terão muitas ‘pandorgas’ solidárias no ar.