OPINIÃO

A paixão segundo Pilar

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A paixão segundo Pilar

Jorge Luis Borges, nas inúmeras entrevistas que deu ao longo da vida, especialmente depois dos anos 1960, quando, tendo ficado cego, se valia dos olhos de terceiros para as suas leituras, não poucas vezes, declarou que escritores contemporâneos não deveriam ser lidos, e ele não os lia, pois, quando se faz isso, há o risco de o leitor ler a si mesmo, uma vez que, ao fim e ao cabo, todos os escritores de uma mesma época são parecidos. Insistia que se deveria buscar escritores de outras épocas, pois ao se retroceder, séculos e mais séculos, até os clássicos gregos, se conseguiria ler gente muito diferente da gente e, só então, o novo apareceria. Há ironia nessa afirmação, por isso urge certa cautela para não se cair em tentação de interpretar literalmente a fala de Borges.

Há pessoas, e eu conheço algumas delas, que dizem não ler autores desconhecidos, pois, em meio à vasta oferta de obras de escritores famosos, não desperdiçariam o seu tempo lendo escritores menores. Se todo mundo agisse nos moldes preconizados por Borges ou seguisse, ao pé da letra, àqueles que não se resignam a dispensar o mínimo de tempo para a leitura de obras assinadas por autores pouco conhecidos, como os novos escritores poderiam almejar um lugar no panteão da fama? Como, nesse tipo de ambiente, um autor desconhecido poderia ficar conhecido entre os seus contemporâneos?

Eu não sigo a receita fácil de negar o novo. Muito pelo contrário. E, até pelo sentimento de dever, que me vejo obrigado, como membro da Academia Passo-Fundense de Letras, eu costumo prestigiar lançamentos de livros, adquirir exemplares e ler obras de escritores locais. E foi assim que, no começo da noite do dia 6 de junho de 2025, na sede do Sodalício das letras locais, tive o privilégio de assistir ao lançamento do livro “Atraídos pelo fogo”, da escritora Beatriz Maria Ecker. Na ocasião, teve as falas do poeta Jorge Ventura, autor do prefácio do livro, do Professor Eládio Weschenfelder, o entusiasta, mentor e revisor da obra, e da escritora Beatriz Ecker, dando detalhes da sua história pessoal e de como o livro foi construído, uma vez que iniciado como conto terminaria como novela (um romance, talvez), além da presença, na cobertura do evento, do fotógrafo responsável pela imagem usada na capa do livro, seguidos pelos autógrafos, gentilmente distribuídos pela autora, e um coquetel de confraternização entre os presentes.

Desnecessário dizer, eu li o livro “Atraídos pelo fogo”. A leitura, posso assegurar, é agradável, os diálogos são fluidos, bem-construídos, o enredo e a história, especialmente da protagonista Pilar, instigam o leitor, em meio ao desfile de personagens masculinos de matizes variados, todos com um traço de fragilidade em comum (indecisão e/ou vícios), espera-se o desfecho, ainda que previsível, com certa ansiedade, diante das múltiplas possibilidades que poderiam ter sido exploradas pela autora.

Admito, foi por ter assistido à fala da autora e a dos demais que palestraram na sessão de lançamento do livro, que me foi facultado, ao ler a obra, não deixar de associar Pilar, a personagem, do alter ego de Beatriz, a autora, que a teria usado para se revelar, indiretamente, aos leitores mais atentos. Tanto Beatriz, autora, quanto Pilar, personagem, são professoras; ambas escreveram livros de literatura infantil (Beatriz é autora de “O Mundo de Nander”, “Saltitando Poesia”, “Os dois Fusquinhas”, “Amigo não é coisa”, “Baú de segredos” e “Eu te conto...Entre um café e outro”); lecionaram na Serra Gaúcha (leia-se Bento Gonçalves); as duas tiveram um filho médico, que, desde a infância, foi aquilo que, ambas, chamariam de “seu porto seguro”; e, ainda que não se ignore tratar de uma obra de ficção, no enredo, há relações passionais suficientes para dar justificativa ao título “Atraídos pelo fogo”. Tampouco, tem como dissociar o Curso de Pós-Graduação, feito por Pilar, na área de Leitura e Animação Cultural, em uma Universidade renomada, da UPF, e o exímio professor de Literatura e contador de histórias, Zeferino, como sendo o Professor Eládio Weschenfelder, que estimulou Pilar (Beatriz) a escrever o livro, para o qual lhe serviu de inspiração a forma como a sua avó Emma contava histórias.

Pilar, talvez Beatriz, nunca perdeu a esperança de encontrar um grande amor. Encontrou? Afinal, quem seria esse grande amor da vida de Pilar? Francisco, Ruan, Sebastian, Cláudio, Ronaldo ou o garboso bombeiro Santiago. Leia o livro para saber resposta. Eu, desde os primeiros capítulos, fiz a minha aposta. Inclusive, suponho, o escolhido estava presente na sessão de lançamento do livro.

SUGESTÃO DO COLUNISTA: O livro “El Niño Oscilação Sul – Clima, Vegetação e Agricultura” está disponível para download gratuito: https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1164333/el-nino-oscilacao-sul-clima-vegetacao-e-agricultura

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