OPINIÃO

NATUREZA HUMANA (1)

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UM LEMBRETE INICIAL

           Na primeira coluna que publiquei aqui n’O Nacional, dia 25 de janeiro de 2024, escrevi que iria me dedicar aos livros. Faria citações de filósofos, cientistas e pensadores em geral na esperança de que elas iluminariam nossa caverna e diminuíram nossa cegueira. Confesso que não me considero um pensador original, mas a leitura dos grandes pensadores que a humanidade produziu me fazem enxergar mais longe do que meu limitado mundo permite, tal como um anão nos ombros de um gigante. Como escreveu Fernando Pessoa, o maior poeta de nossa língua e um dos maiores da humanidade:

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...

Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer

Porque eu sou do tamanho do que vejo

E não do tamanho da minha altura...

 

DIFICULDADE EM ADMITIRMOS A NATUREZA HUMANA

           Vou botar a mão num vespeiro. Como diz Steven Pinker, quando se trata de explicar o pensamento e o comportamento humano, a possibilidade de a hereditariedade ter algum papel, seja ele qual for, ainda tem o poder de escandalizar. Para muita gente admitir a natureza humana é endossar o racismo, o sexismo, a guerra, a ganância, o genocídio, o niilismo, a política reacionária. Afirmar que a mente possui uma organização inata é interpretada não como uma hipótese que pode ser incorreta, mas como um pensamento imoral até para ser cogitado.

 

TÁBULA RASA: A NEGAÇÃO DA NATUREZA HUMANA

           Um estudo monumental sobre a natureza humana foi realizado por Steven Pinker, psicólogo, professor da Universidade de Harvard e autor de livros de divulgação científica. Pinker publicou seu estudo em 2002 no livro “Tábula rasa: a negação contemporânea da natureza humana”. Um bestseller, como todos os livros de Pinker, que já foi nomeado uma das 100 pessoas mais influentes pela Revista Time. Também já figurou na lista "Top 100 Public Intellectuals" da revista Foreign Policy.

 

A TÁBULA RASA

            Tábula rasa é a expressão que designa a ideia de que a mente humana não possui uma estrutura inerente e de que a sociedade, ou nós mesmos, podemos escrever nela à vontade. Nossa mente seria assim uma espécie de papel em branco, totalmente desprovido de caracteres e sem ideias quaisquer que sejam, escreveu o filósofo inglês John Locke (1632-1704). Todos os materiais da razão e do conhecimento inscritos em nossa mente viriam da experiência. A conclusão, portanto, é que nosso comportamento, nossa razão e nossos conhecimentos são resultados apenas da cultura e não de nossa natureza biológica. A mente humana nasceria desprovida de conhecimento ou conteúdo prévio.

 

CONTRA SUPOSTOS PRIVILÉGIOS NATURAIS

           Embora equivocada, a teoria da tábula rasa teve um papel histórico progressista. A afirmação de que todos os homens nascem iguais minava os alicerces da realeza hereditária e da aristocracia, cujos membros não podiam arrogar-se mérito ou sabedoria inata se suas mentes haviam começado tão vazias quanto as de qualquer outra pessoa. Fornecia uma base crítica ao absolutismo e à concepção do poder como um direito divino ou como um atributo inato. Também se contrapunha à instituição da escravidão, já que com ela não se podia conceber uma inferioridade ou subserviência inata nos escravos.

 

ANTOLHOS

           A recusa em admitir a natureza humana distorce a ciência, põe antolhos nos pesquisadores e faz de qualquer discussão sobre o tema uma heresia que precisa ser aniquilada. Muitos autores, de tão desesperados para desabonar toda insinuação de uma constituição humana inata, jogam a lógica e a civilidade pela janela. A análise objetiva da realidade é comumente substituída por difamações políticas e críticas pessoais

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