Centro de distribuição de doações que funcionava na antiga Manitowoc é desativado

Local foi fundamental para o auxílio das famílias atingidas pelas enchentes

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Foto: Luciano BreitkreitzFoto: Luciano Breitkreitz
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Há cerca de um ano, o Rio Grande do Sul enfrentava a maior tragédia climática de sua história recente. As enchentes de maio de 2024 devastaram cidades inteiras, deixaram profundas marcas na sociedade gaúcha e resultaram na perda de centenas de vidas.

Passo Fundo, apesar de não ter sido atingida diretamente pelas águas, teve papel fundamental no apoio humanitário. A cidade tornou-se um dos principais centros logísticos de ajuda às vítimas. O Centro de Armazenamento e Distribuição de Doações, montado na área da antiga Manitowoc — em espaço cedido pela Prefeitura e sob coordenação da Defesa Civil Estadual — recebeu e organizou milhares de toneladas de donativos vindos de diversas partes do país.

O trabalho desenvolvido no local foi decisivo para atender emergencialmente as populações mais afetadas. Segundo o coordenador regional da Defesa Civil, tenente-coronel Darci Bugs, o espaço funcionou até março de 2025, quando o prédio foi devolvido à Prefeitura.

Enquanto Passo Fundo mobilizava esforços para apoiar as vítimas, em várias regiões do Estado, famílias tentavam recomeçar suas vidas. No Vale do Taquari, um dos epicentros da tragédia, novos bairros estão sendo construídos para abrigar quem perdeu tudo.

Mesmo um ano depois, muitas famílias ainda vivem em moradias temporárias, aguardando suas casas definitivas. A dor da perda permanece, mas também a esperança de reconstruir novos caminhos.


Cenário ainda de reconstrução

Enquanto Passo Fundo reunia esforços para ajudar, famílias como a de Danilo Hiedt e Liana Maria de Quadros lutavam para sobreviver e recomeçar. O casal, morador da zona rural de Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari, perdeu tudo para a força do Rio Taquari, que ultrapassou os 30 metros acima do nível normal.

O casal Danilo Hiedt e Liana Quadros sobreviveram em uma canoa e aguardam agora por uma nova casa / Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

"Lá saiu tudo de arrasto, tudo que nós tínhamos: a casa inteira, animais, ferramentas", relembra Danilo, de 65 anos. Em meio ao desespero, resistiram horas em uma canoa ou sobre o forro da casa, até serem resgatados. Liana, ainda se recuperando de uma cirurgia no fêmur e usando muletas, passou a madrugada em uma embarcação. "Tive que tomar remédios com água da enchente. Só conseguimos pegar quatro bergamotas para dividir. Era só o que tínhamos", relatou emocionada.

Hoje, o casal vive em um contêiner de concreto no local onde está sendo construído o Novo Passo da Estrela, bairro que homenageia a comunidade destruída pela cheia. "Pode botar meu terreno aqui, que eu só atravesso a rua. Chorar eu já chorei o que chega. Agora é esperar dias melhores", disse Liana.

Também em Cruzeiro do Sul, Edevar Porto da Cruz, de 67 anos, aguarda ansiosamente pela entrega de sua nova casa. "O governador esteve aí essa semana. Disseram que até o fim do ano entregam algumas casas e depois o restante", relatou.

Apesar dos avanços, o cenário de reconstrução ainda é lento em muitas localidades. Em municípios como Estrela, Muçum e Lajeado, centenas de famílias seguem recebendo auxílio para aluguel enquanto aguardam as moradias definitivas. Programas federais e estaduais preveem a construção de milhares de novas residências, mas a burocracia e a complexidade das obras atrasam os prazos.

Em Estrela, cerca de 516 famílias recebem aluguel social, e novas casas estão em construção. Em Muçum, três loteamentos seguros foram abertos para realocar os moradores. Já em Lajeado, onde mais de 700 casas estão previstas, a expectativa é que a maioria das moradias fique pronta ao longo dos próximos anos.

Um ano depois, a tragédia ainda ecoa na memória dos gaúchos, mas também evidencia a força da solidariedade e da esperança. Para quem perdeu tudo, como Danilo e Liana, cada tijolo erguido é um símbolo da resistência e da fé em dias melhores.

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