Ainda Sobre o DSM...

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Por Rossana Stella Oliva Braghini - Psicanalista

 

Porque estamos discutindo o Diagnostic and Statistical Manual of Disorders ? Porque está saindo do forno a versão do DSM-V que  propõe algumas mudanças as quais temos que ficar atentos.

 

Por que temos que ficar atentos ? Porque é um Manual da Associação Americana de Psiquiatria que não é usado somente pela mesma. Ele se dissipou para outras áreas do saber como psicologia, tribunais, escolas, serviços sociais, ou seja , é o método mais utilizado para dizer se uma pessoa é doente ou não, ou seja se você está enquadrado dentro da “norma” ou não.

 

O problema é que dito manual foi confeccionado pela combinação do método do catálogo com o análogo, e sua busca é de uma taxonomia dos comportamentos, cuja consequência maior é que nenhum de nós que esteja respirando deixa de ser enquadrado em algum transtorno.

 

Um exemplo  que li numa das colunas de Contardo Calligaris na Folha de São Paulo:

 

“ Pelo DSM-V, você sofre de um transtorno se realiza seus desejos sexuais de duas a cinco vezes por semana”. 

 

 

“O DSM-V propõe também critérios quantitativos para o transtorno hipersexual. Seu transtorno é de severidade média, se você passa de 30 minutos a duas horas por dia ocupado por fantasias ou desejos e/ou se você os realiza (masturbando-se ou com um parceiro, tanto faz) entre duas e cinco vezes por semana”

 

Na opinião do psicanalista, no entanto...

 

Cá entre nós, tendo a pensar o oposto: se você NÃO for ocupado por fantasias ou desejos sexuais entre 30 minutos e duas horas a cada dia e/ou se você NÃO realizá-los entre duas e cinco vezes por semana, você vai encontrar ao menos uma consequência adversa: sua vida sexual de casal vai apodrecer progressivamente.

 

E termina ele:

 

No caso do sexo, se você não sofre de transtorno hipersexual, não cante vitória: provavelmente, você sofre de um "transtorno de desejo sexual hipoativo" .

 

Se você evitou os "excessos" da hipersexualidade e não quer ser hipoativo, saiba que não há critério fixo de hipoatividade; quem julga é o clínico, "levando em conta fatores (...) como a idade e o contexto da vida da pessoa" - sem mais.

 

Em suma, quer saber qual seria a quantidade certa e "saudável" de sexo na sua vida ? Como não é mais moda perguntar para o padre, pergunte para o psicólogo ou o psiquiatra.

 

Concluindo:

Se o  psiquiatra ou o psicólogo sabe o que é bom para nós, algo muito cruel está excluído: o sujeito em questão. Aliás, este foi artífice usado durante séculos pela Igreja e o Estado, ocupado agora pelo prestígio da ciência, para controlar, vigiar e punir.

 

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