Depois de iniciado no atletismo como corredor de velocidade pelos professores Airbal e Adirbal Corralo, aqui de Passo Fundo, continuei minha trajetória no Grêmio Futebol Porto-alegrense onde fui treinado também pelo húngaro, professor Alexandre Davids. Corria o ano de 1967 e eu havia iniciado o curso de Medicina em Pelotas, quando participei do Campeonato Brasileiro Universitário de Atletismo em Piracicaba tirando o segundo lugar nos 400 metros rasos. O resultado era bom e conseguimos o índice para participar dos Jogos Mundiais Universitários em Tóquio no Japão depois de um mês de treino no Esporte Clube Pinheiros em São Paulo.
Continentes
Ir ao Japão naquela época era quase como ir para o espaço sideral, tipo o que fez o Richard Branson da Virgin. A rota de ida saiu de São Paulo e incluiu escalas no Rio de Janeiro, Lima no Peru, Panamá, Cidade do México, Los Angeles, Honolulu no Havaí e Tóquio. No último trecho sobrevoamos as Ilhas de Midway onde foi decidida a guerra do Pacífico na Segunda Guerra Mundial. A volta, saindo de Tóquio, incluiu Anchorage no Alaska, voo sobre do Polo Norte, Copenhague na Dinamarca, Frankfurt na Alemanha, Dakar no Senegal e finalmente Brasil. Quatro continentes.
Choque cultural
Acostumado a treinar em estradas de chão batido, a chegada à Tóquio foi um choque. A Vila Olímpica, no bairro de Shibuya era tudo de bom. As pistas para treino de pavimento sintético. Tecnologia de ponta em todo o lado. Os alojamentos claros e funcionais e uma lâmpada pendente, pelo seu balançar eventual, permitia perceber os miniterremotos que ocorriam quase que todos os dias na capital japonesa. O povo era extremamente simpático e paparicavam os atletas. Fiquei vaidoso ao ser sempre assediado por eles para dar autógrafos. Imagine. Cada dia tínhamos uma surpresa da cultura nipônica. Descobri, com estranheza, que o prato nacional era peixe cru, coisa que nunca tinha me passado pela cabeça. Após os Jogos Olímpicos de Tóquio 1964, algumas pessoas se perguntavam se a capacidade do Japão de organizar um evento esportivo de classe mundial seria apenas um acaso, um acontecimento único que nunca mais se repetiria. Os incrédulos se enganaram rapidamente com a realização da Universidade de Verão de 1967 na capital japonesa.
Segundos inesquecíveis
No dia da competição no Estádio Nacional um portentoso um placar anunciava meu nome, país e a pista onde iria correr. Essas informações eram testemunhadas por milhares de pessoas nas arquibancadas. No calor abafado de Tóquio corri os 400 m em 48.9 segundos o que me rendeu o quinto lugar numa eliminatória. Poderia ter feito melhor, mas para um atleta saído do Boqueirão em Passo Fundo, me dei por satisfeito. Agradeço ao estímulo que sempre tive de amigos, como o Professor Ubirajara Oro, o falecido repórter Meirelles Duarte para citar dois. Sou muito grato a cidade de Passo Fundo que sempre me apoiou e me homenageou através da Câmara de Vereadores.
Medalha e autógrafo
Na volta, em Frankfurt, encontramos no aeroporto, a atriz Elke Sommer que era de uma beleza estonteante no frescor da sua juventude. Consegui um autógrafo grafado na aba de um chapéu e que guardei ao lado da medalha de participação na Universíade de Tóquio. Fiquei famoso por um tempo, mas minha notoriedade esvaneceu assim como ocorreu com a assinatura da Sommer. Mas, confesso, que valeu muito a pena.
(*) Hugo Roberto Kurtz Lisbôa é médico e atleta, ex-aluno do CENAV e IE.