É de uma sala no segundo andar do modesto centro administrativo de Passo Fundo que o prefeito Pedro Almeida (PSD) lidera a sexta economia municipal do Rio Grande do Sul. Naturalmente que nem sempre despacha dali, pois os compromissos externos são frequentes. Há poucos dias, esteve no distrito de São Roque, vistoriando obras de asfaltamento. Na última terça-feira (15), participou do lançamento da nova fase de construção da primeira grande indústria de etanol do estado, da Be8, com investimento de R$ 1 bilhão; dias antes, foi ao trevo da ERS-324, no acesso ao distrito industrial, para assinar a ordem de serviço para obras de remodelação da via.
Essas obras, inclusive, são símbolos relevantes do cenário econômico passo-fundense, e ajudam a alimentar o otimismo daqueles que projetam Passo Fundo duas posições acima na lista das maiores economias gaúchas em poucos anos. “A gente vê os indicadores acontecendo e os investimentos que estão sendo feitos”, relaciona Pedro.
Mesmo nesse contexto, o município tem problemas e desafios a serem superados. Recentemente, parte da população lidou com o desabastecimento de água; a saúde também tem questões complexas, por exemplo, mas Almeida garante que tem feito esforços para avançar em diferentes áreas, com resultados concretos.
Em conversa com o Jornal O Nacional nessa quinta-feira (17), Pedro Almeida avaliou os primeiros cem dias do seu segundo mandato. Na entrevista, pontuou feitos da prefeitura, destacando a pujança do município que governa. Veja a seguir:
O Nacional- O que mudou, em sua percepção, na gestão do primeiro para o segundo mandato?
Pedro Almeida - Num governo de continuidade como é o nosso, obviamente que os projetos vão se interligando. Nós temos muitas entregas que foram feitas nesses últimos quatro anos e já iniciamos esses primeiros 100 dias também com grandes conquistas para a cidade, dando sequência aos projetos que vêm acontecendo. Essa é a vantagem, a grande questão em relação aos governos de continuidade. Nós iniciamos uma grande transformação da cidade com o ex-prefeito Luciano, nosso deputado federal, que implementou um ritmo de investimentos acelerado para a cidade, de melhoria em várias áreas e que nós estamos consolidando agora.
Eu considero que estamos vivendo um grande momento em Passo Fundo, principalmente quando a gente olha os indicadores, que são muito positivos. Se compará-los com outras regiões do Rio Grande do Sul, especialmente, diante de tudo que o estado passou com as enchentes e a seca, eu acho que Passo Fundo está vivendo realmente um grande momento econômico e de desenvolvimento que é muito diferente do que se vê na maioria das cidades. A projeção para o futuro é muito positiva.
Nesses primeiros cem dias, quais iniciativas considera mais relevantes?
Das ações mais importantes desses primeiros 100 dias, que são várias, eu destacaria, especialmente na infraestrutura, o início das obras do trevo do Distrito Industrial da ERS 324, chamado popularmente de Trevo da Gran Palazzo, uma estrutura importante para o desenvolvimento econômico da cidade. Era a nossa previsão dentro dos 100 dias, demos a ordem de serviço e a obra já iniciou. Também a abertura do edital para o outro acesso do outro distrito industrial, na Invernadinha, o trevo do De Carli, acesso que vai beneficiar todas as empresas daquele setor, inclusive a Be8. Essas duas grandes obras que estavam no nosso radar, no nosso plano de governo e na própria discussão da campanha eleitoral, estamos tirando do papel com investimentos que ultrapassam R$ 40 milhões.
Para completar, outra meta alcançada é a questão da antiga Manitowoc, e que nós conseguimos agora a certidão, o registro para o município de Passo Fundo. Isso foi um grande avanço, é um trabalho que tem sido feito há muitos anos, uma questão judicializada, complexa, e que conseguimos vencer mais uma etapa. Com essa certidão em nome do Município, nós vamos trabalhar no termo de referência e devemos ter ainda esse ano um edital de concessão para essa área nobre, que pode atrair novos investimentos para Passo Fundo de grande monta.
Além dos indicadores, Passo Fundo segue todos os anos se consolidando como primeira cidade do interior em geração de empregos. Nós só ficamos atrás da capital. Isso é muito importante! Na última edição do Café com Emprego, foram mais de 1,2 mil vagas abertas. A cidade realmente respira desenvolvimento nesse momento e a gente quer muito que esse desenvolvimento gere oportunidades para as pessoas e que possa melhorar a qualidade de vida de quem mora aqui.

Sexta economia gaúcha, com PIB de R$ 12,6 bilhão, analistas indicam a possibilidade da cidade subir mais duas posições em poucos anos. O senhor segue esta projeção?
Com certeza, a gente vê os indicadores acontecendo e os investimentos que estão sendo feitos em Passo Fundo, em especial na indústria, novas empresas, o setor aquecido da construção civil, e tudo isso encaminha, sem dúvida, nos próximos anos, para disputar um quinto, quarto lugar no PIB do estado.
Recentemente, a prefeitura entregou novas estruturas no Hospital Municipal, contemplando a saúde pública, uma área recorrente na agenda de reivindicação da população. Quais as necessidades sociais entende que são prioritárias e demandam atenção de seu governo?
A saúde é sempre um desafio, mas é importante fazer um histórico. A gente lembra que quando chegamos à prefeitura - e eu digo nós, pois eu fui secretário do ex-prefeito Luciano - das condições que estava o Hospital Municipal, nem sequer Alvará ele tinha para funcionar, era um hospital condenado ao fechamento. Colocamos em funcionamento o Hospital Dia da Criança e a nova Emergência, e agora, mais recentemente, dentro dos 100 dias, 32 novos leitos, completamente equipados para a população que vai usar o Hospital Municipal, é um avanço bem importante. O Centro de Diagnóstico que nós também entregamos e que está funcionando a pleno nesse momento. O Hospital Municipal ganhou uma atenção nos nossos governos nos últimos anos que foi transformadora.
É importante lembrar sempre que a saúde de maneira geral é tripartite. Na atenção básica, é o Município; na média complexidade, o Estado e na alta complexidade, a União. E aqui nós temos uma estrutura de saúde que é uma das maiores, mais complexas e mais bem estruturadas do Brasil. Nós somos o terceiro polo de saúde do Sul do Brasil. Isso nos traz benefícios, mas também desafios. Mais pessoas buscam o atendimento em Passo Fundo.
Estamos estruturando a nossa rede. Entregamos quatro novas unidades de saúde no segundo semestre do ano passado. Vamos entregar agora o novo CAIS Petrópolis, que vai ser 24 horas, que junto com a unidade de saúde da Petrópolis será um grande complexo de saúde. E aí tem uma notícia muito boa para a saúde: nós conseguimos realizar, depois de muitos anos, um concurso público, que já está colocando na rede mais de 100 profissionais, médicos, técnicos, auxiliares, enfermeiros, tudo isso vai reforçar a nossa rede.
Fizemos investimentos nesses últimos quatro anos nas especialidades médicas, que seria um compromisso do Estado, mas que o Município assumiu. Com um mutirão, investimos mais de R$ 30 milhões, reduzindo as filas com especialistas na nossa cidade. Tem mais pessoas que vão precisar daqui para frente, mas eu considero que são ações importantes, ganhos que tivemos na área da saúde nesses últimos anos.
Nesse primeiro período do mandato, em fevereiro, o desabastecimento de água atingiu dezenas de bairros e milhares de pessoas, junto a outros problemas relacionados a cobranças nas faturas. Entende que as medidas adotadas pela prefeitura foram suficientes e surtiram resultado?
Esse foi um problema muito grave, que não atingiu só Passo Fundo, mas vários municípios do estado que são atendidos pela Corsan, e nós aqui agimos rapidamente, enquanto Executivo, em tudo aquilo que estava ao nosso alcance para cobrar imediatamente que a empresa normalizasse a situação. Realmente foi uma situação muito sensível para a população, e nos colocamos no lugar das pessoas.
Fomos, inclusive, copiados por outros municípios em relação a essas ações, que foram duras, no momento certo, eu acredito, tudo aquilo que a gente pôde fazer. E essa questão com a Corsan seguirá sendo debatida para que a gente nunca mais passe por isso.
No contexto político, o senhor governa com o apoio de ampla maioria na Câmara de Vereadores. Qual a avaliação que faz dos resultados dessa condição e como se relaciona com os parlamentares de oposição?
Eu desconheço outro prefeito que tenha feito o que eu fiz no início de uma gestão. Eu chamei todos os 21 vereadores para uma conversa individual e para conhecer as suas plataformas de trabalho. Foi um trabalho que eu tenho orgulho de dizer que fiz, porque eu considero que esse diálogo, essa maneira respeitosa de tratar os agentes públicos, é muito importante. Eu ouvi muitas coisas boas, inclusive dos vereadores da oposição, que reconhecem no nosso governo muitas conquistas e que fazem críticas que são, dentro do jogo político, completamente aceitáveis.
O que eu não concordo, muitas vezes, são as críticas que vão para o lado pessoal, ou querem simplesmente atacar a imagem das pessoas. Eu acho que cada agente público tem o seu mandato e dentro do seu mandato estabelece as suas diretrizes, as suas políticas, as suas principais ações que vai trabalhar. É um conjunto, ninguém faz nada sozinho. Então eu procurei aqui, já no início do meu governo, deixar muito claro que eu trataria com muita sensibilidade as pautas que forem trazidas e que beneficiem a população. No final da história, quem é o nosso chefe maior é o povo de Passo Fundo, a população que escolheu os seus representantes e que nos deu a oportunidade, mais uma vez, de estar à frente dessa cidade que é, para mim, um orgulho.
A gente pode ter divergências em ideias, ideologias, mas tem que ter sempre muito respeito, o que é mais importante.
Para o restante do mandato, qual é o seu objetivo principal como prefeito?
Quando a gente coloca a cidade à disposição do empresariado, cria um ambiente de negócios que é respeitado, como é o nosso, buscado todos os dias por inúmeros empresários de outras regiões, vemos a credibilidade que hoje Passo Fundo tem. Isso diz respeito à maneira como governamos, com honestidade, transparência e competência. Esse ambiente que criamos vai repercutir nos próximos anos, sem dúvida. Uma das marcas do nosso governo será o desenvolvimento econômico, junto à infraestrutura da cidade.

Avançamos muito em obras. O programa Minha Rua com Asfalto está na quinta edição. São mais de 50 bairros que receberam estrutura, a iluminação em LED está chegando em 100% das vias públicas, a cidade se estruturou, tem a revitalização de vários espaços, a Av. Presidente Vargas, o Parque Linear da Avenida Brasil, o complexo esportivo Fredolino Chimango, e isso é visível às pessoas.
Além de obras para desafogar a mobilidade urbana que queremos avançar muito nos trevos da cidade. Estamos tirando duas grandes obras do papel, mas tem ainda o trevo da Santa Marta, Caravela, Roselândia, que tem acordos realizados com o governo do Estado e tenho certeza que vamos avançar.
Na área da educação, acho que deu um salto de qualidade nos últimos anos, conseguimos avançar muito com a construção de novas escolas, o tempo integral que soma 1300 alunos nessa modalidade. Estamos fazendo um edital inédito, comprando vagas da iniciativa privada, para 800 novas vagas.
Isso não significa que a gente não tenha desafios para vencer, mas acho que as nossas práticas estão dando certo e o projeto da Cidade Educadora, e tudo que vem acontecendo na educação é uma coisa que nos orgulha muito.
Tem muita coisa para acontecer, eu estou muito feliz, muito honrado, mais uma vez, por servir a minha cidade dessa forma, mas claro, com muito pé-no-chão, sempre com humildade, para saber que ninguém consegue fazer tudo, a todo momento. A gente tem que avançar nas pautas da cidade e tenho certeza que com união, com o entendimento do desafio que temos como uma cidade de médio porte que é referência regional - numa região que ultrapassou a de Caxias do Sul como o segundo PIB do estado - teremos realmente muito futuro pela frente.